sexta-feira, abril 29, 2005

MÃO DE OBRA BARATA

Bem, Brazilino, você chegou em Boston. Now what! A primeira reação é de deslumbre, mas em seguida você tem que cair na real e descolar um trampo. Você tem sorte, pois um primo que está aqui algum tempo tem todos os contatos e assegurou uma entrevista na obra e outra no restaurante.
“Prá que que serve uma application?”, você pergunta pro Souzinha. “É prá botar uma informação que os caras não vão nem ler, é tudo fajuto...mas tu bota aí esse numero de social que nóis arrenjemo prá você e fica tudo bem. E o negócio é começar mesmo na disha! Pagam $6.80 prá começar e depois vai mudando de um pro outro, agregando outro, umas obra, umas pintura, umas limpeza e uns help, daqui dois ano tu tá fazendo o mermo pelo Ferreirinha”.

Ferreirinha ficou em Sobral. Tava querendo mesmo era ir prá São Paulo. Mas São Paulo já não representa o sonho do nordestino brasileiro. Lá, tinha que morar em favela e pegar 3 conduções pro trabalho, sem saber que chegaria vivo em casa, por causa dos tiroteios e da falta de segurança.
Ferreirinha, Souzinha e Brazilino já sabem disso há um montão de tempo. E não têm a quem culpar por isso! Maluf, Pitta, Martha Suplicy, Serra?... porém sabem que no tempo que seu pai esteve em São Paulo era bem diferente. Outros tempos!
Mas hoje! Era melhor ficar em Sobral e tentar viver de empreguinho de 180 real e botar tudo na conta do armazém de novo...

Ou tentar a Travessia!! Pelo México, direto prá Boston! Por isso você está aqui!
Primeiro dia de trabalho, alguém dá carona e você se apresenta pro supervisor, que aponta o seu avental, o material e pede prá você ficar a postos, ajudar a varrer aqui, limpar ali. Tudo feito em mímica e com a ajuda de outro brasileiro que também chega cedo ao restaurante. Porquê inglês mesmo ninguém fala direito, só que você ainda não notou. A diferença daqui prá Sobral é que aqui Paga Melhor...
Nossa, 8 dias de América e já de emprego novo! Que rapidez, os 180 real do mês vão se multiplicar. E Ferreirinha algum dia chegará para recomeçar o ciclo...
Não interessa o que o Brazilino esteja fazendo em Nova Inglaterra. Mas está se virando todo dia. Para levantar uma grana e tentar dar uma vida melhor para seus familiares no Brasil.
Para isso, investe tudo o que tem, arruma mais dólar emprestado, vira a cara para São Paulo, ex-eldorado e se manda para uma aventura que é uma incógnita.
Segunda feira, 25 de Abril de 2005, mais de 200 brasileiros se encontram presos numa apreensão que surpreendou a todos. Veja abaixo, compilado esta manhã do Globo Online:
RIO - O cônsul do Brasil no Texas, Carlos Alberto de Azevedo Pimentel, disse em entrevista ao "Jornal Nacional" que o número de imigrantes ilegais de todas as nacionalidades tem crescido nos últimos anos. Mas as autoridades americanas estão preocupadas especialmente com os brasileiros. - Os brasileiros estão crescendo mais do que os outros. Está se criando no Brasil um mito de um 'Eldorado Americano', em que só são lembradas e acentuadas as experiências que tiveram êxito e se esquece dos que não deram certo ou aqueles que simplesmente fracassaram. Segundo o cônsul, essa imagem não está sendo somente divulgada boca a boca, mas também pelos interessados nesse tráfico. - Hoje há grupos organizados no Brasil e nos Estados Unidos facilitando esse tráfico de mão-de-obra barata - informou ele.
Leitor, pergunto eu a você: Será que é melhor tentar vir para os Estados Unidos, aonde existem inumeras oportunidades, do que ir morar na periferia do Rio, Belô e São Paulo?
Uma geração de brasileiros entre 25 e 40 anos não terá tempo para esperar as reformas na economia brasileira. Vai ter que suportar muitos anos com salários achatados e problemas sociais.
Alguns não conseguem esperar tanto tempo, ganhando uma merreca no campo, na cidade pequena e sem conseguir construir a casa própria. E tem mesmo que vir para a....América!
Brazilino, quem diria, um lutador! agora :mão de obra barata, na voz do cônsul.

Escrito por Phydias Barbosa / Brazilino é criação de Cláudio Piereck.

Novos Crimes do Amor

Novos Crimes do Amor Nota do autor: Para escrever este conto, eu me baseei em crimes realizados no seio da comunidade brasileira...