sábado, janeiro 29, 2005

A DENTADURA

Brazilino ralou um tempão na América, trabalhando em todos os ofícios possíveis e impossíveis.

Finalmente, realizado com a casa própria, negócio de pintura funcionando e papel temporário no bolso, resolveu convidar a sogrinha para vir passear nos States. Com visto direitinho, conseguido no Consulado Americano. A véia nao conseguiria fazer a travessia da fronteira pelo México....”inda bem, comentou Marieleide. 10 mil dóla!!! Caro prá chuchu...”

-“Vamos na Disneyworld?” , perguntou a sogrinha jararaca. Brazilino ficou surpreso com a pergunta, tão direta, (“- Cumé que a véia sabe que existe Disneyworld? - Só pode ser a Grobo” , disse Marieliede)

Foi um sufoco, porque a velha veio sòzinha e ao passar na imigração de Miami deu zebra: “What’s is your address in the United States?” Hum? Veio o intérprete em Portunhol, pois o intérprete Brasileirol estava de off.

-“ La sinhora tiene que decir donde que va morar en Miami.”
- “Uai,vou morar com Brazilino, meu genro, que tá me esperando lá fora. Moço, nos vai na Disney!”

-“Ok, cuanto dinero lleva?”
-“50 real! Brazilino falô que a partí daqui tudo é por conta dele. Os 50 real é pro ônibus pra voltar pra Matosinhos.”

O alto-falante chamou “ Mr. Brazilino de Souza, Mr. Brazilino de Souza, por favor identificar-se ao oficial de imigração” . Tremedeira total. Pronto! Deportaram a véia. Mas a situação não era tãograve assim. Queriam ver o papel do Brazilino. Tudo em ordem, sairam do Aeroporto comemorando as 2 garrafas de cachaça que a jararaca trouxe da Fazenda e rindo do sufoco.

Agora, era pegar a estrada e ir direto para Orlando.

Durante todo o tempo da viagem, a sogra comentou somente uma coisa: sua dentadura nova. Que beleza, ela agora podia comer churrasco, batata frita, torresmo e arroz tropeiro sem problema. E mostrava a dentadura, rindo e chorando, agradecendo a Brazilino os 400 dólares que ele mandou, ESPECIALMENTE para ela pagar o prostético.

Marieleide também estava muito feliz com a visita da mãe e com a notícia que ela ia ser vó dentro de pouco tempo. “Que chique!,” disse a véia, “vou ser vó de um americano...Cuá...quando a turma de Matosinhos souberem....”

Foram pro hotel descansar. Ao acordar na manhã seguinte,Brazilino viu um copo com água do lado da cama, achou que Marieleide tinha deixado ali, bebeu a água toda rapidinho, sentindo um gostinho diferente no final, mas não ligou muito, pensou que a água do Hotel tinha mesmo um gostinho de limão brabo. Seguiram para a Disney, onde a véia fez questão de ir logo pra mais alta das mais altas das montanhas russas, tão excitada que estava na terra do Mickey.

Marieleide nao entrou na cadeirinha, estava meio enjoada por causa da gravidez. E tampouco os avisos permitiam que ela entrasse na Montanha Russa.

Subiram Brazilino e a jararaca. Quando o carrinho estava fazendo a subida da primeira rampa, a véia vira-se pra Brazilino e diz: “graçado, de manhã procurei o copo dágua da dentadura e não achei.” Brazilino engoliu seco, o carrinho subindo a rampa. Percebeu que tinha bebido a água errada. Embrulhou o estômago, a véia ria: “quem será que bebeu a agua?”, e começou a rir, “RA RA RA RA” , abrindo o bocão e mostrando a dentadura, meio entre tremendo e emocionada, NA VIRADA da rampa a véia estava com a boca tão aberta e a risada tão alta, que....a Dentadura caiu. Imagine uma cena em câmara lenta: do lado de fora do brinquedo, aquela dentadura novinha caindo por cima das pessoas e se esborrachando no chão, quebrando-se em mil pedaços. E Brazilino vomitando, vomitando, e gritando “PARA ESSA PORCARIA QUE EU QUERO DESCER!”

Em baixo,Marieleide nem imaginava o que estava acontecendo! Brazilino vomitava e a véia chorava. “ Minha dentadura nova” !

Ao descerem da experiência maravilhosa, os dois estavam arriados. A véia com a boca enterrada para dentro – como fica a boca de todo véio quando perde a dentadura - e Brazilino arrazado com o pessoal reclamando e tendo que ir se lavar de tanto banho de vômito. Em plena Disneyworld! E pensava: Vou matá essa jararaca e mandá o corpo todo picadinho de volta prá Matosinhos....

AZAR ou....Incompetência????


Brazilino é criação de Claudio Piereck (Miami)

domingo, janeiro 23, 2005

BRAZILINO PAGA MICO NA FESTINHA

Brazilino foi convidado para uma festinha de aniversãrio. Julião, que trabalha com ele na pintura e que vive dizendo palavrão quando acontece algum imprevisto, até mesmo quando a cor da tinta vem diferente no mixer automático do Home Depot, era o anfitrião: “Aniversário de minha mulher! Vamos comemorar!”

Pobre Julião, foi um sufoco a sua vida até aqui. Entrou pelo México três vezes, depois de ter sido deportado duas, evidente com nomes totalmente diferentes. Hoje já nem se lembra mais quando alguém o chama de Genésio. É Julião e pronto.

“Minha gata adorada vai fazer 25 anos e a festa vai ser no quintal lá da nossa casa, vai ter churrasco, salgadinho e muito doce, já encomendei tudo prá Dona Nelcy da Padaria”.

Brazilino então comprou até roupa nova no Salvation Army e tudo. Imaginou que na festinha ia ter umas meninas brasileiras, ficou todo animado para dançar um samba. Foi falar com o Paulinho, que mora no beco do Caneco alí em Everett e pediu um monte de Cd emprestado. Conseguiu discos do Rappa, Roupa Nova, Negritude Júnior, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Leandro e Leonardo, já se imaginando o DJ da festa.

Quando chegou na casa do Julião, Brazilino viu um CD player no canto e umas moças interessantes arrumando a mesa e pensou consigo mesmo:” É hoje que eu vou me dar bem. Santo Genésio, isto é Santo Julião. Faz mais de 8 meses que não vejo muié, agarrado na pintura e na limpeza.”

Comeu uma coxinha de galinha pensando nas coxas da idolatrada salve salve que estava à sua frente. Mas Genésio Julião não aparecia, diz que estava esperando a esposa chegar do cabeleireiro ali na esquina da 99, então ele se sentiu pouco à vontade. Mas prá quebrar o gêlo, falou com uma gordinha que ia passando. “Hi, speak Portuguese?” (só prá chamar a atenção e dizer que falava um pouquinho de ingrês!), a moça disse que sim e Brazilino então perguntou se podia usar o CD player para botar umas musiquinhas legais. “Claro que sim, irmão. Fique à vontade.”

Aquele irmão soou meio estranho. Êle logo se lembrou do pastor da Igreja Metodista lá de Capivarí e do próprio primo, que frequentava o templo da Assembléia de Deus de Macaé de Cima. Que isso, esse pessoal aqui num é crente não, pensou. Aquela muié alí num ia mostrar aquelas coxas e aqueis peitão se fosse crente. Tomou coragem e botou logo o disco do Martinho da Vila...é devagar, é devagar, é devagar devagarinho...

Quando de repente um senhor de terno se levantou e disse: “Irmãos, quem foi que colocou essa música do capeta aqui, em nome de Jesus, vamos retirar daqui essa maldição”.

Brazilino bem tinha notado a falta de bebida alcóolica na festa, mas ficou aguardando alguém chegar com um 24 pack de Budwiser, como ninguém chegasse ele tomou um pouco da garrafinha de vodka que vinha guardando no bolso do casaco há um tempão, mas aí minha gente não conto nada, quando o diácono sentiu cheiro de cachaça e escutou o Martinho no Cd player, começou a querer exorcizar o pobre do Brazilino.

“Irmão, vamos orar. A Bíblia diz que não devemos escutar essas veleidades que nos impõem pela televisão e jornais, devemos acreditar que Jesus veio para nos salvar e nos ajudar a nos livrar de nossos pecados” – enquanto o diácono estava orando de olhos fechados e com a mão direita no ombro de Brazilino, ele olhou pela penúltima vez para as pernas da moça que estava sentada e pensou: música prá pular brasileira não pode, mas coxa de fora pode....e lembrou também de um jornaleco semanal que fala de bíblia e religiao o tempo todo, mas na página do meio – bem no meio – mostra umas jovens maravilhosas em roupas de dormir, calcinhas, sutiãs, langerrí...sexo pode, mas música popular não pode. “Inda bem que eu não truxe o CD do Bob Marley....”

Não deu para entender nada, mas assim que o futuro pastor acabou a oração, Brazilino pediu desculpa para ir ao banheiro, guardou os Cds do Paulinho e se pirulitou tarde adentro, decidido a não se converter...pelo menos por enquanto, pelo menos até que ele se convença de que isso que aconteceu com êle e que podia ter acontecido com você, leitor, não passa de mais um....AZAR OU INCOMPETÊNCIA....?

Brazilino é criação de Claudio Piereck (Miami, Florida)

BRAZILINO DANÇA DE NOVO!

Brazilino dessa vez sofreu muita humilhação! Também pudera, não se informou direito, achou que lendo o Manual Mexicano ia logo se dar bem....

Afinal de contas, nós brazilinos sempre fomos azes da imaginação e do jeitinho. Sempre dá para resolver e quem não se comunica se trumbica, já dizia o Véio Guerreiro Chacrinha.

Mas guerreiro MUDERNO mesmo é o Brazilino que, como uma praga benigna infesta essas plagas da Nova Inglaterra, como um conquistador, atravessando desertos, rios, montanhas e enfrentando os helicópteros da Imigração. Guerreiro e conquistador, sentindo-se mesmo um herói, como em 1620, quando aqui nas águas de Cape Cod atracou o Mayflower trazendo os primeiros colonos da área. O colono de hoje é o Brazilino 2005 de Souza!

(O editor vai me dar uma bronca, melhor voltar pro artigo)

Para conquistar o tão esperado Sonho Americano (American Dream, como querem alguns...), Brazilino vem para cá quase sem-sem, isto é LESS, MuiéLess, Pennyless (sem grana) e DRIVERS LICENSE LESS.

O Brazilino aqui desta estorinha tinha descolado um seguro pro carro numa determinada agência, mas como todo mundo fazia seguro com a mesma mutreta armada pelo DIZ-pachante – diga-se de passagem, mutreta legal, já que ilegal aqui neste país é a própria homeland, que de terra e casa não entende nada – a Registry descobriu e mandou cancelar todos os seguros.

Brazilino, que não podia viver sem conduzir seu carrinho japonês 97 pelas obras, pinturas e cleaning noturno, descolou um amigo na Carolina que arrumou uma ID falsa prá êle e marcou a entrevista na DMV de lá.

Dirigiu bem devagarzinho, prá não chamar a atenção na estrada.

No estabelecimento, encontrou outros 5 brazilinos dependurados com o mesmo problema, conversando entre êles sobre o assunto, até que:

Entrou no salão um policial simpaticíssimo, rindo com todos e falando bom português (de Portugal) e perguntou:
-“Algum dos senhores está cá com a carteira ID falsa prá tirar uma de conduzir”?

Os 6 se levantaram e disseram: “ é nóis aqui, ó!”

- “Acompanhem-me, por favor...”
- “E pra onde é que nós tá ino agora?”

- “Pra Delegacia de Polícia!!”

Agora, pergunto eu a você: Isso é Azar....ou Incompetência?

By Phydias Barbosa
Brazilino é criação de Claudio Piereck (Miami, FL)

Novos Crimes do Amor

Novos Crimes do Amor Nota do autor: Para escrever este conto, eu me baseei em crimes realizados no seio da comunidade brasileira...