domingo, janeiro 23, 2005

BRAZILINO PAGA MICO NA FESTINHA

Brazilino foi convidado para uma festinha de aniversãrio. Julião, que trabalha com ele na pintura e que vive dizendo palavrão quando acontece algum imprevisto, até mesmo quando a cor da tinta vem diferente no mixer automático do Home Depot, era o anfitrião: “Aniversário de minha mulher! Vamos comemorar!”

Pobre Julião, foi um sufoco a sua vida até aqui. Entrou pelo México três vezes, depois de ter sido deportado duas, evidente com nomes totalmente diferentes. Hoje já nem se lembra mais quando alguém o chama de Genésio. É Julião e pronto.

“Minha gata adorada vai fazer 25 anos e a festa vai ser no quintal lá da nossa casa, vai ter churrasco, salgadinho e muito doce, já encomendei tudo prá Dona Nelcy da Padaria”.

Brazilino então comprou até roupa nova no Salvation Army e tudo. Imaginou que na festinha ia ter umas meninas brasileiras, ficou todo animado para dançar um samba. Foi falar com o Paulinho, que mora no beco do Caneco alí em Everett e pediu um monte de Cd emprestado. Conseguiu discos do Rappa, Roupa Nova, Negritude Júnior, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Leandro e Leonardo, já se imaginando o DJ da festa.

Quando chegou na casa do Julião, Brazilino viu um CD player no canto e umas moças interessantes arrumando a mesa e pensou consigo mesmo:” É hoje que eu vou me dar bem. Santo Genésio, isto é Santo Julião. Faz mais de 8 meses que não vejo muié, agarrado na pintura e na limpeza.”

Comeu uma coxinha de galinha pensando nas coxas da idolatrada salve salve que estava à sua frente. Mas Genésio Julião não aparecia, diz que estava esperando a esposa chegar do cabeleireiro ali na esquina da 99, então ele se sentiu pouco à vontade. Mas prá quebrar o gêlo, falou com uma gordinha que ia passando. “Hi, speak Portuguese?” (só prá chamar a atenção e dizer que falava um pouquinho de ingrês!), a moça disse que sim e Brazilino então perguntou se podia usar o CD player para botar umas musiquinhas legais. “Claro que sim, irmão. Fique à vontade.”

Aquele irmão soou meio estranho. Êle logo se lembrou do pastor da Igreja Metodista lá de Capivarí e do próprio primo, que frequentava o templo da Assembléia de Deus de Macaé de Cima. Que isso, esse pessoal aqui num é crente não, pensou. Aquela muié alí num ia mostrar aquelas coxas e aqueis peitão se fosse crente. Tomou coragem e botou logo o disco do Martinho da Vila...é devagar, é devagar, é devagar devagarinho...

Quando de repente um senhor de terno se levantou e disse: “Irmãos, quem foi que colocou essa música do capeta aqui, em nome de Jesus, vamos retirar daqui essa maldição”.

Brazilino bem tinha notado a falta de bebida alcóolica na festa, mas ficou aguardando alguém chegar com um 24 pack de Budwiser, como ninguém chegasse ele tomou um pouco da garrafinha de vodka que vinha guardando no bolso do casaco há um tempão, mas aí minha gente não conto nada, quando o diácono sentiu cheiro de cachaça e escutou o Martinho no Cd player, começou a querer exorcizar o pobre do Brazilino.

“Irmão, vamos orar. A Bíblia diz que não devemos escutar essas veleidades que nos impõem pela televisão e jornais, devemos acreditar que Jesus veio para nos salvar e nos ajudar a nos livrar de nossos pecados” – enquanto o diácono estava orando de olhos fechados e com a mão direita no ombro de Brazilino, ele olhou pela penúltima vez para as pernas da moça que estava sentada e pensou: música prá pular brasileira não pode, mas coxa de fora pode....e lembrou também de um jornaleco semanal que fala de bíblia e religiao o tempo todo, mas na página do meio – bem no meio – mostra umas jovens maravilhosas em roupas de dormir, calcinhas, sutiãs, langerrí...sexo pode, mas música popular não pode. “Inda bem que eu não truxe o CD do Bob Marley....”

Não deu para entender nada, mas assim que o futuro pastor acabou a oração, Brazilino pediu desculpa para ir ao banheiro, guardou os Cds do Paulinho e se pirulitou tarde adentro, decidido a não se converter...pelo menos por enquanto, pelo menos até que ele se convença de que isso que aconteceu com êle e que podia ter acontecido com você, leitor, não passa de mais um....AZAR OU INCOMPETÊNCIA....?

Brazilino é criação de Claudio Piereck (Miami, Florida)

Nenhum comentário:

Novos Crimes do Amor

Novos Crimes do Amor Nota do autor: Para escrever este conto, eu me baseei em crimes realizados no seio da comunidade brasileira...