“Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre
tem razão”.
Esta é uma frase de Nelson Rodrigues que me acompanha
desde o ano de 1965. Nascia a recessão. Os militares tomavam conta do Brasil. E
eu, começando a vida de assistente duplo em cinema, de produção e de direção.
De produção, de duas feras da época, Roberto Baker e
Chris Rodrigues, que devem estar como almas felizes passeando em galáxias
desconhecidas, das mais de 200 milhões existentes no Universo, que toda hora me
fazem lembrar que somos todos nitratos de pó de M e deixamos que a mídia, a babaquice
generalizada da política mundial e do capitalismo desenfreado nos proibam viver
o presente.
De direção, de João Bethencourt (também no céu), que
tinha sido o maestro teatral da montagem episódica de Os Pais Abstratos, de
Pedro Bloch, no Teatro Princesa Isabel (Leme, RJ) recém inaugurado no qual eu
era o Faz-Tudo, o Saca-Trapo, em inglês é chique “Runner”, “Office Boy’. O teatro
era de Orlando Miranda, Pedro Veiga e Pernambuco de Oliveira. Este último me
ensinou muitos truques teatrais que até hoje utilizo em montagens emblemáticas.
Como alguns “millenials” vão ler isso, a sugestão de procurar esses nomes no
Tio Google é necessária.
O conteúdo do filme? Nelson Rodrigues e suas obras.
Eu, 17 anos, sendo assistente de todas essas feras e tendo a tarefa de chegar
cedo na casa de seu Nelson em Laranjeiras e avisá-lo para se preparar para as
filmagens, antes da equipe chegar. E “tinha” que escutar pérolas de sua
coleção, como “O Oto Lara Resende diz que o mineiro só é solidário no câncer”.
Caraca, estávamos em 1965. Aquele “câncer” exclamado
pelo escritor, teatrólogo, jornalista que eu tanto tinha aprendido a admirar
soou horrível, câncer era uma palavra proibida, uma doença sem cura, um mal terminal.
E dava medo. Até hoje, mais de meio século depois, nos apavora e mata.
Porém, a frase abaixo me deixou mais cabreiro e a qual
me fez pensar – sim, o Brazilino pensa e logo, existe –
“Toda família tem um momento em que começa a
apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece
um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao
mesmo tempo”.
Frases de Nelson Rodrigues, minha gente, não são do
Brazilino. E fui pra casa pensar.
Podem não ser pederastas, lésbicas ou ladrões. Podem
ter ideias mágicas na cabeça. Algum dia, podem virar milionários. Por sorte. Ou
lançarão uma start-up vencedora? Estou falando dos “millenials”. Você tem um em
casa?
Pois, parafreseando Nelson: “Os Millenials só são
solidários na Maria Juana”. Dêem pra eles alguma tarefa. Vão te enganar, fazer
pela metade, ficar com preguiça de continuar. “I’m tired”! Como são poderosos... No
laptop e no smartphone....ah e no baseado!
Esses jovens cresceram (do Wikipedia) “num mundo
digital e estão, desde sempre, familiarizados com dispositivos móveis e
comunicação em tempo real. Como tal, são um tipo de consumidores exigentes,
informados e com peso na tomada de decisões de compra. São a primeira geração
verdadeiramente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a
primeira infância. A Internet é, para
eles, uma necessidade essencial e, com base no seu acesso facilitado,
desenvolveram uma grande capacidade em estabelecer e manter relações pessoais
próximas, ainda que à distância. A
tecnologia e os dispositivos móveis (tablets e smarphones) em particular, criaram condições para os Millennials ligarem-se
e comunicarem entre si como nenhuma outra geração o tinha feito anteriormente,
permitindo partilhar experiências, trocar impressões, comparar, aconselhar,
criar e divulgar conteúdos, que são o fundamento das redes sociais. Os Millennials têm a
expectativa de ter informação e entretenimento disponíveis em qualquer lugar e
em qualquer hora.
Eles têm que sentir que controlam o ambiente em que
estão inseridos, têm que obter informação de forma fácil e rápida e têm que
estar aptos a ter vidas menos estruturadas”.
Ferrou! Os Baby-Boomers não conseguem se comunicar com
os Millenials, tal a distância do “telephone Graham Bell” de parede com
manivela até ao smartphone. Boomers são pais e avós dos millenials e como tal,
desrespeitados. Estamos “passados” e “velhos”.
Tudo isso me fez lembrar Nelson Rodrigues. Mas, terá
mesmo o passado “razão”? Ou devemos todos os boomers pendurar nossas chuteiras
e observar o que essa galera vai fazer com o planeta Terra?
Ou ainda….como sabemos que não somos nada no Universo,
deixar prá lá e “ir viver a vida que nos resta, respirando o presente e
deixando nas mãos – e laptops - deles?”.
Porque, amigos, a tecnologia é maldosa, assim como as
TVs abertas. Nos desliga no momento do religare. Religare com a religião, ou uma crença, uma filosofia, "religare" com a família, com o pensamento, a amizade, gratidão, conversa, consistência, perdão e benevolência. Falta tudo isso aos
Millenials? Ou não precisarão (nada disso) no decorrer deste século?
Phydias Barbosa
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