segunda-feira, fevereiro 16, 2015

DONA BRAZILINA E SEUS DOIS MARIDOS



Brazilina resolveu imigrar pros States com o noivo.

Gente boa, o Zé Cornélio. Trazia consigo a tranquilidade emocional de que, uma vez nos Estados Unidos, ninguém mais faria brincadeiras de mau gosto com seu sobrenome. Isso tinha sido uma rotina desagradável desde os tempos do primeiro grau. Afinal, Cornelius fora o melhor amigo de Tim Maia quando ele viveu em Nova York, assim tinha escutado alguns amigos dizer. Cornelius e Cornélio são o mesmo nome. Ninguém iria notar!

Estavam instalados numa casinha confortável em Margate, na Flórida. Os dois trabalhavam em limpeza, realizando uma parceria que lhes rendia um bom dinheiro. A ideia era, quando chegasse a hora, pudessem voltar ao Brasil e viver da renda das casinhas que estavam construindo em Miraí. E realizar uma festa de casamento inesquecível, aonde até churrasco e música haveria.

Entretanto, essa vida de ilegais os assustava muito. Todo dia, dentro da Van indo pro trabalho, escutavam conversas sinistras sobre brasileiros presos e deportados.

A muito custo, resolveram que comprariam casamentos com americanos, depois de terem conversado com advogados especialistas no assunto, escutando e seguindo atentamente os conselhos e dicas recebidos.

Muitos brasileiros se encontravam nessa situação, eles sabiam muito bem.  E para alcançar a legalização mais rapidamente, lhes pareceu que seria a melhor solução. Resolveram que Dona Brazilina se casaria primeiro e mais tarde, Zé faria o mesmo.

Maguinha, uma amiga bem descolada, mesmo falando um inglês longe do pretérito perfeito, fez as apresentações. – “Joe, diz iz Brazilina. Chi wantz to pay you to marry her”.

Tudo arranjado, o que deixou Zé Cornélio meio preocupado foi o fato de que os novos pombinhos teriam que morar juntos, para provar à Imigração a veracidade dos fatos. Joe foi, então, morar na mesma casa, trazendo roupas, objetos, ferramentas de pintura e também seu hábito de todo dia tomar umas cervejinhas, assistindo futebol no PFC. 

Uma noite, enquanto Zé Cornélio fazia a limpeza noturna de um office e Dona Brazilina dormia a sono solto,  Joe entrou no quarto errado, deitou na cama do “casal” sem perceber. Dona Brazilina acordou com aquele corpo quente junto ao seu e sem abrir muito os olhos, aproveitando o escurinho do ambiente, amou o seu “marido” até que ele desse um suspiro romântico e se levantasse para ir ao banheiro.

Só então percebeu o erro cometido. Mas, como a relação amorosa tinha sido uma das mais interessantes de toda a sua vida, aquele erro passou a ser cometido semanalmente, até que Zé descobriu e resolveu tomar uma atitude.”Ou ele ou eu”, disse. “-Mas, Zé, eu amo meu novo marido americano e quero ficar com ele. Ao mesmo tempo, quero muito bem a você e não desejo que você saia da casa”.




Um plano imigratório que deu em amor legal!

Cornélio, seguindo à risca seu infeliz sobrenome de batismo, aceitou a proposta de trocar de quarto – afinal, havia uma transação financeira na qual ele havia participado e concordado. Podia investir nas casinhas de Miraí.
Atualmente, quem vive bem é Dona Brazilina, muito entusiasmada com seus dois maridos e legalizada pelo governo americano. Agora quem vai comprar a legalidade é o Zé. Aguardem o mico. Azar...ou Incompetência?

(Phydias Barbosa)


Os personagens "Brazilino" e "Brazilina" foram criados por Claudio Piereck em Miami, em 1991, que publicava seus artigos no Brazilian Courier.



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