segunda-feira, outubro 11, 2004

LEVEI RAY CHARLES NO MEU TÁXI (2)

ou...THE SONG....


Quando era motorista de táxi em Los Angeles, de fato tive a sorte de conduzir Ray Charles, do Aeroporto LAX até seu Estúdio em West Los Angeles.

Fui motorista de táxi de Março a Julho de 1990 ! Coisas do destino de um “cineasta rebelde”, como diria Alcione Franco. Tentei levar uma conversa legal com o cantor, mas ele não me deu muita atenção, pois estava ocupado em dar uma bronca no seu manager, “Where is the fucking limousine? A cab? A Brazilian driver? Get out of here!”

Nessa época, os trabalhos de produção deram uma parada e eu me ví no meio de um monte de contas a pagar, Nicholas com 8 anos, em escola particular! Los Angeles é uma cidade cara, afinal para viver em Hollywood não é suficiente ter cancha, saber falar inglês e ganhar uns trocados. É necessário buscar mais grana o tempo todo. Um sufoco! Tive que correr atrás de uma oportunidade que me trouxesse uns 3 mil dólares por mês e o L.A. TAXI foi a salvação.

Passageiros ilustres? Só um: Ray Charles.

Sexta feira passada, 11 de Junho, Ray Charles morreu! O mundo inteiro já sabe, mas tem duas pessoas de Macaé que marcaram uma época Ray Charles na minha vida, por isso mando uma cronaca familiare, aí pra Santa Terrinha - (com licença, Tonito).

Vale aqui uma introdução: Levei Ray Charles no meu Táxi, a crônica 1, foi publicada no jornal Folha Macaense (Martinho Santafé, Romulo Campos, lembram?) lá pela época em que conduzí o próprio em meu táxi, o 1472, pelas ruas de Los Angeles. Esta “segunda parte” é uma sequela, porém sem o mesmo apelo. Afinal, Ray Charles morreu!

Por isso, sei que Dalvinha e Ricardo Meirelles estão, pelo menos nestes dias após a morte do grande cantor cego, lembrando-se de mim! E como não sabem onde ando, faço desse periódico meu veículo. Também, penso comigo mesmo, mas resolvo arriscar: será que se lembraram mesmo? E se for só fantasia minha? It doesn’t matter…

Dalvinha, (Edalva Nunes Barreto, na época) a primeira da lista: Em 1959, ela me pedia para cantar “I Can’t Stop Loving You” no palco da Primeira Igreja Batista de Macaé. E pedia bis!! Que coisa, eu era cantor e não sabia. Dalvinha me aplaudia! Eu tinha 11 anos! Imitando Ray Charles….

Meu vício pelo cinema levou-me a conhecer Ricardo Meirelles, dentro do Cine Taboada, por volta de 1960. De “Charlitos”: Vimos um anúncio de um filme com Carlitos e êle (Ricardo) dobrou a língua e sem querer leu Charlitos, daí esses apelidos “charles”, “charlitos”, que nos ligava à música e ao cinema o acompanhou por longo tempo: pergunte a Lincoln Gil, Eisaburo Mori, José Peixoto, Lia Meirelles, Priscila, Moadir Vitorino e a outros que já estão no céu, como Drauzo, Euzébio e Toscano. Se não me acreditar ou se os “vivos” não confirmarem e isto será por pura falta de memória, os que “lá” estão, confirmarão.

Mas o que tem a ver Ricardo com Ray Charles? Ora, eu também cantava Stella by Starlight, no quintal dos Vieira, imitando Ray Charles quase sem sotaque e tentando reviver aquela voz rouca do crooner americano que tanto me impressionava. A letra da música começa assim “The song….”.

Uma vez, em São Pedro d’Aldeia, de férias na casa dos tios do Meirelles, tínhamos acabado de acordar, Ricardo levantou-se e foi pelo corredor da casa cantando Stella by Starlight para a empregada, que ao vê-lo nú, saiu correndo. Nunca mais me esquecí da música, vendo o Meirelles pelos corredores, balançando o pinto e cantando: “The song…”

Na sexta feira, foi-se um ídolo mundial. Infelizmente, dividiu as manchetes do dia com o enterro do Ronald Reagan. Mas, certamente, para milhões de fãs, foi a nota mais triste da semana. Ajuda a me manter vivo, com o exercício da mente em forma, sem esquecer os detalhes de algumas aventuras infantis.

Phydias Barbosa.



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