domingo, outubro 31, 2004

O VISTO

BRAZILINO em...

O VISTO!!! By Phydias Barbosa

BRAZILINO (Milagre!) veio para a América com um visto bonzinho, daqueles tirados no Consulado, sem mutreta nenhuma. Deu um trabalho desgraçado, mas o despachante parece que fez um serviço legal. Descolou os nada-consta, comprovante de renda, carta da firma onde Brazilino “trabalhava”, carteira de trabalho com registro de emprego, tudo na mais perfeita ordem. Nossa, que comemoração, em Capivari parecia dia de jogo do Brasil. Todo mundo queria ver o visto de verdade!

-“ Que legal, Brazilino vai pros States trabalhar e mandá dóla pá nós”, diziam os pais, já velhinhos, mas ainda sem a casa própria. E a cerveja com churrasco rolou uns 3 dias.

Um primo do Brazilino, o Ederaldo, já estava em Danbury faturando uma nota na obra e na pintura, ofício que Brazilino dominava numa boa. Aprontou tudo para a longa viagem até Connecticut, afinal planejava descolar no mínimo uns 50 mil dólares, para terminar a casinha dos pais e começar a sua própria, para o desejado casamento com a Firmina de Bonsucesso. E ainda ter algum no bolso para abrir uma lojinha de buginganga na roça.

Telefonou pro primo contando a novidade, “ primo, tô com visto e tudo! Beleza! Chego dia 10 em Noviórqui”.

Gente, sem onda, a Imigra olhou o passaporte com visto e tudo, e ele que não era bobo nem nada e tinha aprendido umas frases com a prima Adelina, tacou o inglês pros homi ver: “I am from Brazil! I am a Tourist!” Very good, disseram, You can go. Ele entendeu quengo, mas tudo bem, afinal estava livre e com a Van do Almeida esperando do lado de fora para levá-lo até Danbury. “ Felicidade, estou na América do Norte!!”

Trabalhou quase dois anos perto de Bristol, com umas 12 reformas e mais umas 45 casas pintadas. Toda semana, aquela festa em Capivari. “É dóla do Brazilino!”

Construiram a casinha dos pais, levantaram uma meia água num sítio bacana, que a Firmina já tava de olho há muito tempo, mas bateu um cansaço durante o segundo inverno. “Já estou com uma grana no bolso, pezinho de meia começado”..., resolveu voltar prá trás. O primo estranhou: “Brazilino, agora que tu conseguiu uma grana legal, com tudo indo às mil maravilhas, fica mais um ano, cara.” Não dava! A saudade de Firmina era muito grande. Sem mulher há quase dois anos, só no sonho e na imaginação, não deu mais. Inda mais observando as mulheres elegantes que moravam nas belas casas que ele reformava ou construia, “pera lá tenho que me mandar, não dá prá viver sem secho”.

Levantou mais 5 mil num acabamento, que durou quase três meses que pareceram 3 anos e se mandou.

Outra festa em Capivari, Brazilino com dolares no bolso pagou todas para muitos amigos, acabou de construir a própria casa mas ficou olhando prá Firmina. “My God” , disse ele, “que infelicidade, tanta muié bunita na América e eu voltei aqui prá casá com essa baranga”.

Teve uma idéia, “gente”, disse, “ainda estou com um visto bom. Vou voltar para a América, o objetivo agora é outro, construir um campinho de futebol soçaite, uma piscina, depois vendo tudo, faturo uma grana, compro um apêzinho e vou morar em Ipatinga, gostei de cidade grande, viu”.

Voltou! Achando que tudo ainda eram flores, que bom, sonhou com o mesmo officer da Immigration carimbando seu passaporte. Mas, dessa vez, o pessoal não foi tão simpático. Deu salinha de segunda busca, perguntaram (tudo em inglês, claro!!) quanto tempo o senhor ficou aqui, “6 meses” disse Brazilino, mas os officers logo viram que era mentira, “e o que que o senhor ficou fazendo aqui,” essa foi difícil de entender, mas falou, “I am a tourist, vim passear”. Demorou mais uns 50 minutos, até que veio um senhor muito educado falando espanhol e disse,”mi señor, venga conmigo”. Levou Brazilino para outro salão, aonde haviam outros Brazilinos aguardando alguma coisa, sem saberem direito o que ia acontecer. Resultado, deportação! “Mas porquê, perguntou pro coroa hispano, porquê, meu visto é bom, vim passea”..” -Si, señor, pero no se pasea solamente con 38 dolares no bolso. Os officers disseram, o senhor já passeou bastante nos States. Hora de voltar pro Brasil”!

AZAR. OU....INCOMPETÊNCIA?


Brazilino é criação de Claudio Piereck.
Escrito por Phydias Barbosa

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