terça-feira, novembro 05, 2013

Filmagem de Savage Harvest - Rio, Julho de 1980


Esse cartaz é hilário. Acho que os distribuidores quiseram dar um ar de filme-catástrofe, mas não colou...

Fui convidado para fazer parte da equipe de Colheita Selvagem pelo Herbert Richers Junior, o Bijunio. No início, meu trabalho seria procurar alguns móveis e objetos antigos para a decoração dos cenários, na cidade de Vassouras e arredores. 

Após uma pesquisa razoável, percebi que os trabalhos de construção na Fazenda Cachoeira, local onde seria rodada toda a parte brasileira do filme, estavam muito atrasados. Era o dia 26 de junho e a data do início da filmagem seria 7 de julho. 11 dias corridos. Achei que o prazo era curto demais. Mas, minha posição era ínfima na produção e não tinha muito a ver com o planejamento. Assim, não dei atenção. Saí de Vassouras resolvido a também sair da produção. Estava tudo muito desorganizado para meu gosto. Uma das frases que ouvi de um morador local: "estou preparado para me dar bem com esses americanos", me forneceu a cor do espetáculo que ali se desenrolaria por 3 meses.

Cheguei ao Rio dia 29 de junho e fiz uma visita à central de produção, encabeçada por Michael Bennet, production manager, que veio diretamente de Los Angeles e Victor Lima (diretor de produção), Herbert Richers Jr (produtor associado)e Phyllis Hubber (coordenadora).

Nesse apartamento, alugado pela produção em Ipanema, morava o diretor de arte e designer Brian Eatwell com sua prancheta. Acompanhava-o sua intérprete e secretária brasileira, Tania Cavalcanti. Ela tinha sido secretária executiva de uma empresa estrangeira e fôra escolhida para ser assistente do Mr. Eatwell porque dominava o idioma inglês.

Propus ao Brian que eu deixasse em meu lugar na contra regra dos móveis e objetos de cena, a Hilza Maria, que era minha assistente na Blow Up e, na época, quase namorada. Expliquei que o trabalho para o qual eu tinha sido escolhido ficaria melhor em suas mãos. Enrolado com um trabalho atrasado do comercial de Fanta Limão, que não filmávamos por problemas de meteorologia, eu teria que dar mais atenção ao projeto e não queria atrapalhar minha situação profissional no mercado carioca.

Levei Hilzinha, alguns dias depois, a Vassouras para apresentá-la à equipe com o aval do Brian e também para passar todo o resultado da minha pesquisa. Dia 3 de julho, faltando 4 dias para o início da filmagem, fomos à fazenda. Pela primeira vez, passei pelo páteo aonde estavam os leões em suas jaulas, onde estacionei. Dali mesmo, notei que o Michael Bennet subia as escadas da antiga senzala em direção à casa grande. Ele estava acompanhado pelo produtor, Sandy Howard. Apressei o passo para alcançá-los. Chamei o Michael para apresentá-lo a Hilza. Sandy quis saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Disse, então, que eu era o encarregado da contra-regra externa e queria passar o serviço para ela. Ele não deixou que eu terminasse de falar. Disse: "Come upstairs with me, I need help with some translation". Hilza ficou próximo ao carro, esperando, eu voltaria já, afinal era meu último dia na produção. Passei por mais de 100 pessoas, alguns construiam a casa do fazendeiro inglês, outros trabalhavam nas jaulas e nos cenários. Eu ainda achava que essa filmagem jamais começaria dia 7.

Durante as sessões de tradução, eu escutava o João Lima, o construtor, contratado em Vassouras, afirmar diversas vezes que tudo estaria pronto domingo, dia 6. O meu passeio pela casa parou de repente quando o Cícero Araujo, assistente de produção, veio aos gritos me procurar para que eu tirasse o carro de perto das jaulas. Era uma questão de segurança. Quando cheguei ao lugar, já estava tudo providenciado, pois um dos curiosos que se encontravam por ali, levou meu carro para um estacionamento seguro.

Porém, eu queria dizer good-bye e apresentar minha amiga. À tarde, nesta mesma quinta feira, levei-a para dar uma volta pela cidade e mostrei toda a pesquisa que havia feito e o levantamento dos objetos. Mesmo assim, ganhei uns dólares extras, pois o Michael me pediu que conduzisse ao Rio uma turma: Graham Henderson (Accounting), Mike Roberts (Cameraman) e Roger McDonald (Assistente de Câmera), todos ingleses. Os dois câmeras teriam que pegar a ponte aérea para São Paulo a fim de checar o equipamento da produtora do Valdi Ercolani. O contador ia ao Rio buscar dinheiro.

Quando cheguei a Ipanema com o Graham, notei que a produção estava com problemas para conseguir alugar um gerador de 20KVA. Conheci Clélia Schembri, que era a Assistente de Produção Executiva e tinha trabalhado em Moonraker (um James Bond filmado no Rio em 1979 com Roger Moore). A confusão era muito grande e eu pensei em sair de fininho, mas antes teria que acertar meu cachê da semana anterior. Recebi minha graninha e já ia saindo.....

Quando o destino conspira a seu favor, não há nada que se possar fazer para contrariá-lo. No momento de tomar o elevador para sair do prédio, esbarrei de novo com Sandy Howard. Ele, então, me perguntou se eu poderia conseguir umas 10 latas de negativo Eastmancolor 5247, para começar a filmar no dia 7, pois todo o material que tinha vindo dos Estados Unidos ficara preso na Alfândega! Por força de contrato com a seguradora inglesa, era imperativo que ele começasse a filmar na segunda feira mesmo. "Crazy people", pensei. Para colaborar, resolvi fazer umas ligações e logo consegui as 8 latas, que eram suficientes para o primeiro dia. Já de saída para buscá-las, alguém me chamou e me passou o telefone. Era o Michael, ligando de Vassouras. Perguntou se eu poderia acompanhar um grupo na Polícia Federal a fim de pegarem seus vistos de trabalho.

Sandy, Graham, Ronnie Taylor (o diretor de fotografia do filme, que mais tarde viria a ganhar um Oscar com "Gandhi"), Mike Roberts, Roger Mc Donald, Robert Collins (diretor) e Gordon Everett (técnico de som). Ou seja, a nata da equipe técnica principal do filme. Pedi ao motorista para eu mesmo dirigir a kombi. Sendo de Vassouras, ele ia acabar se perdendo e era urgente essa viagem à PF. Lá, encontramos outros participantes: os treinadores, seus assistentes, num total de 26 pessoas. O despachante estava um pouco atordoado com tanta gente. Marquei um encontro com Sandy às 18 horas no escritório em Ipanema e saí para buscar os negativos. Felizmente, chovia muito e o comercial da Fanta estava adiado, dando-me um pouquinho de tempo para faturar uns dólares extras.

De volta ao escritório com as latas de negativo, Sandy me disse: "See you on Monday" e me pediu para confirmar que eu estaria na filmagem na segunda feira. Expliquei, então, que eu não poderia fazer parte da equipe e nem iria voltar a Vassouras, já tinha passado meu serviço para Hilza. Porém, o Bijunio me interrompeu: "Phydias, tá louco? Eu preciso de você. O responsável pelos Efeitos Especiais precisa de um assistente, eu indiquei você". Levei um susto, pois já me achava fora da produção.

Naquele momento, deu o clique do destino. E se eu voltasse atrás em minha decisão e ficasse no filme? No mínimo, seria uma experiência, participar daquela "grande loucura". Resolvi os trâmites do comercial da Fanta com a Blow Up, conversei com o Franklin, que colocou o Pompom no meu lugar na produção e subi para Vassouras na terça à noite, 8 de julho. Ao chegar ao Hotel, fiquei surpreso ao encontrar Jorge Monclar, Dutra, Fernando Duarte (operadores de câmera e diretores de fotografia), Mário da Silva, Ângelo Riva (som), mestre Haroldo (eletricista), Ramiro, Joaquim (maquinistas), Eliseu Ewald (assistente de direção), Ademar, José Vieira, Valter Vieira, Sirlei Dias, Lucia DelCueto. Só então me senti de fato fazendo parte da equipe.

A grande desorganização ou ...Como não fazer filmes no Brasil!

Assolado por péssimas notícias da filmagem, escutava tudo que diziam meus companheiros sobre os problemas que estavam ocorrendo ali e que ainda nem tinha me dado conta. A primeira providência foi comer alguma coisa e à mesa, mais calmamente, Monclar foi me colocando a par da situação. Victor Lima (diretor de produção) tinha sido despedido e Bill Hudson, meu chefe, que eu nem havia conhecido ainda e com o qual iria começar a trabalhar na manhã seguinte, havia reclamado e exigia a minha presença imediata. Soube, também, que o Brian Eatwell havia adorado o trabalho da Hilza e decidira empregá-la definitivamente como set dresser até o final das filmagens. E do imprevisto que acontecera com o ator Arthur O´Malley, no filme fazendo o papel de Dr. McGruder. Ele teve um rompimento dos vasos sanguíneos. 

(Continua em "De Quissamã a Hollywood- o livro". Peça o seu, curta a página no Facebook)








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