sábado, agosto 28, 2004

Comprando uma dor de cabeça

Quando Brazilino chegou em Boston, foi morar num prédio caindo aos pedaços no South End da cidade. Sorte dele, pois em pouco menos de um ano, uns salvadorenhos que moravam em 8 ou 9 no andar de cima, resolveram sair. Quando o landelórde apareceu, viu o estado precário do apartamento, resolveu vender por uma bagatela. Brazilino, que passava na hora, mexeu no bolso e na conta do Banco, viu que tinha economizado uns dólares de tantos meses trabalhando 18 horas por dia na construção, na dixa ou no rúfe e ao invés de mandar o tutu para Minas, resolveu investir aqui mesmo. Sideubem!
Depois de 2 anos limpando e renovando a moradia, um loft do final dos anos 1800, vendeu o espaço com um lucro 4 vezes maior que o investimento e aí sim, despachou 3 mil dólares por semana durante os próximos 6 meses, quase 70 mil dólares cash, para sua família comprar 4 apartamentos para alugar em Resplendor.
Tudo parecia ir às mil maravilhas. Mas, por um desses motivos que só Deus sabe, o prédio aonde compraram os apartamentos em construção nunca ficaram prontos, o engenheiro-chefe desapareceu para o Suriname com o salário dos trabalhadores, diz que para iniciar uma vida de garimpeiro e Brazilino, com pena da família, bancou a vinda de todos para Boston.
Mineiro dificílmente descola visto no consulado para vir para a América. O máximo que consegue é chegar no México e tentar a travessia pelo deserto, ajudado por coiotes, um bando de miseráveis que só maltrata a rapaziada, podendo até estuprar, bater, matar e desaparecer com o indivíduo. Por isso, Brazilino se assegurou que sua família viesse prá cá com coiotes de classe, evidentemente um pouco mais caros! Mas, afinal, 18 horas na obra, na dixa e no rúfe não mata ninguém e ele sempre economizou seu dinheiro, sem gastar nas noites brasileiras e nem correndo atrás de mulher.
Quando a família chegou, um veio vindo atrás do outro, cada semana chegava um (duas irmãs, um irmão, papai e mamãe). Foi uma emoção. Botou logo as meninas prá trabalhar no Clín, o Zequinha foi prum Dunkin de Everett e papai e mamãe começaram a fazer marmita para fora. O paraíso em Somerville!
Mas, Eunice e Candinha logo se revoltaram. Desistiram de limpar privada de americano, que isso elas jamais teriam que fazer no Brasil. Zequinha se enfezou com um cliente do Dunkin que reclamou sério dele com o gerente. Tudo por causa da quantidade de açucar do café! O business de papai e mamãe só durou 3 meses, pois os vizinhos reclamaram do cheiro de gordura no corredor. Enfezados, resolveram ir embora pro Brasil. Com a grana que soboru dividido pelos quatro, compraram passagens One Way e voltaram para Resplendor. Deixando Brazilino com a conta dos coiotes na mão para pagar. Alguns milhares de dólares mais tarde você acha que isso é…….

Azar ou Incompetência? *Brazilino é criação de Claudio Piereck

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