sábado, agosto 28, 2004

O Passaporte Portugues

BRAZILINO NA AMÉRICA (2)

O Passaporte Português

Brazilino saiu de uma pequena cidade do interior de Minas, “passou voando” pelo Rio de Janeiro, “num deu nem prá vê o CrissRedentô”, entrou num aviazão, com uma roupinha de Domingo. Quase num susto, deliciado com as luzinhas que via lá de cima do céu, apareceu de repente na cidade do México. “ Nossa”, pensou Brazilino. “Que emoção, foi aqui que o Brasil foi tricampeão!!”

Detestou comida mexicana,”um tar de burrito, pimentado que nem malagueta, só prá burro meis, sô“. Demorou prá curar a diarréia. Saiu de uma pensión, entrou em outra, os coiotes não falavam que dia iam fazer a travessia e nem por onde. Entrou em outro avião, esse menor que o outro. Dez dias depois, estava dentro dum “trunk” de um carro com fundo falso, passando ileso e ilegal por Tijuana.

Dalí prá pra San Diego foi um pulo, outro Aeroporto, mais algumas horas e chegava a Nova York. Cansado, mas feliz. Como disse um mexicano pro outro: “Este brasileño está jodido, pero contento”

Numa noite qualquer de 2002, deu as caras na casa dos conhecidos em Boston.

Chegou e já foi logo substituindo um dos irmãos na “disha” noturna.

Mas nosso herói descobriu uma turma de brazucas estacionada no
“parking lot” do Brooks de Allston, viu que o local era ponto de encontro para se descolar um “help wanted” em qualquer área de serviço.


Logo descolou trabalho como bricklayer, sua profissão no Brasil

Daí pra comprar uma tevê pra assistir a Globo foi um pulo. Três meses depois, deu entrada num carrinho Nissan popular, usado e barato. $400 dólares de entrada e $38 por semana. Maravilha, em Central, Brazilino no máximo dirigiu um trator. E nunca teve carteira de motorista!

Comprou a carteira internacional, fez o ITIN, abriu conta na Verizon, obteve por milagre e rapidez americana o seguro do veículo e foi logo prá rua conquistar quem sabe, 3 full time, ou uns 5 part time por semana. O negócio em Boston é fazer como todo mundo: “faturá uns dóla” para pagar os coiotes. 11 mil e quinhentos.“Dóla!”

Se possível, trabalhar até 100 horas e ganhar entre 800 e 1200 por semana. Dane-se a saúde. Desde que tenha TV Globo em casa e um feijão com arroz, mesmo que seja às 11 da noite, tudo bem!

Alguns meses depois e feliz da vida de já ter terminado uma casa e indo limpar outra no dia de folga, Brazilino passou o sinal vermelho e a polícia o parou!

Foi um sufoco! Mais de 1 ano de Boston, sem falar uma palavra de inglês, Brazilino ouviu o que o officer falava, sem entender nada do que ele dizia.

Mas balançava a cabeca, fazia que sim, que não, OK. E o policial entregou a multa um papelzinho: Comparecer a Corte tal dia tal hora….

Brazilino teve que contratar intérprete e bancar o custo da corte.

Sem entender nada, sempre fazendo que sim e que não para o intérprete, Brazilino foi levado para uma salinha e o obrigaram a assinar um papel. O intérprete deu a má notícia. Deportação!


Mas pensa o quê!! Depois de um tempo contando prosa em Central dentro dum Fiat velho do primo, Brazilino está de volta! Comprou passaporte português, mudou de nome, conheceu Lisboa por 3 dias, arrumou uma dívida compensatória com os amigos brasileiros dos coiotes e trabalha num Restaurante chic, rapaz, ganhando uns $40 de gorjeta por noite, mais o salário por hora. Já está terminando de pagar as dívidas e daqui a pouco começa a construir em Central. Do Brasil.




Phydias Barbosa

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