sábado, agosto 28, 2004

A Entendida do Dunkin

BRAZILINO NA AMÉRICA (3)

Phydias Barbosa

A entendida do Dunkin


Marcinha, uma Brazilina descontraída, chegou com um primo pelo México, vieram de avião de uma cidade do Texas. Foi logo mexendo com faxina em Providence, mas dois meses depois embarcava num ônibus da Peter Pan, surpresa com a virada do primo, que resolveu se casar com um “gay” : Lá em Freminghém tem mais oportunidade, rapidinho tu arruma um emprego, dise o primo. E saiu Brazilina prá conquistar a América!

Por sorte, viajou do lado de mais três brasileiros descolados que já vinham para Boston com indicação para trabalhar em construção. Vamos para Lowell, disseram. É perto de Freminghém?, perguntou Brazilina, que nem o mapa de Massachussets tinha visto ainda.

Papo vai, papo vem, todos notaram que tinham chegado há pouco do Brasil via México e já estavam viajando pelos Estados Unidos, sem precisar falar uma palavra de inglês. “Santo país! Aqui todo mundo fala português” .

Assim sendo, sem precisar falar uma palavra de inglês, Brazilina logo descolou um outro emprego de faxina, trabalhando pra equipe do Tião, que todo dia a buscava em casa mais uma colega e iam fazer 3, 4, às vezes até 5 casas num dia só.

Tudo ia muito bem, mas nossa Brazilina, algum tempo depois, cansada, percebeu que estava sendo passada para trás. O Tião, que parecia ser muito legal no princípio, deixou transparecer que estava faturando um bom dinheiro com o trabalho das duas e já as chamava de “minhas meninas”. Ela bem que notou que o Tião andava de carro novo, não saía do celular, com relógio Rolex no pulso, bancando o almoço todos os dias no Café Belô....

Pera lá, comentou Brazilina com a colega. Isso é muita incompetência de minha parte, não vim para Boston para virar lucro de ninguém, isso aqui não é bordel, é um tal de limpar latrina, casa de cachorro, cocô de gato, tirar o lixo, separar garrafas, passar roupa, limpar o quarto da madame, vacunar o livinrúm. E o desgraça do Tião ainda me deixa esperando horas para vir me apanhar no serviço.

Rodou a baiana “vou entrar num cursinho de ingrês” e aí se matriculou num desses cursos espalhados pela grande Boston, que oferecem ao aluno um pacote para falar inglês em 6 meses! O rapaz do cursinho foi explícito, tem que estudar e fazer o homework. - Vou falar em 3!, disse Brazilina.

Mas, faltava muita aula, o schedule de faxina aqui em Boston não é nada fácil. Como é que ia prá aula se ela saía de Newton às vezes por volta das 6 horas da tarde, cheirando a guarda-chuva velho, ir em casa, tomar um banho, prá ter aula em Freminghém às 7?

Por isso, faltando mais aula do que comparecendo, Brazilina lutou e finalmente conseguiu um emprego num Dunkin, afinal o social falso foi mole de conseguir, descolou com um amigo do Tião, foi muito fácil sô, foi só dar o número do telefone de Ipatinga, trocou um dígito e com o novo trabalho, achava que dizendo gúde mornin, ráu ariú, dava prá enganar. Treinou uns 5 dias e já ficou apta para atender no balcão, mas no início não fazia o troco, só separava os pedidos na hora do rush e depois entrava para a produção na bakery.

Foi quando o manager chegou e explicou que um pacotinho que estava do lado era o TO GO do Mr. Smith, o outro era o TO GO da Mrs. Scott e uma grande bandeja ao lado era do FOR HERE.

O dia passou sem muitas novidades, os donos dos To Go vieram todos, mas lá pelo meio da tarde, Brazilina comentou com a colega que o Mr. Smith foi buscar o TO GO dele, assim como a Mrs Scott. E completou Brazilina...Mas o FOR HERE não veio até agora!!!

AZAR...OU INCOMPETÊNCIA?


Brazilino é criação de Claudio Piereck





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