segunda-feira, maio 29, 2006

De Quissamã a Hollywood






"Phydias Barbosa conseguiu uma tremenda façanha na vida. Ele acumula um total de 18 profissões, trabalha há 45 anos, morou em 6 países e 14 cidades diferentes, fala 5 idiomas, mas não tem aposentadoria, nem poupança e casa própria. Plantou diversas árvores, produziu 2 filhos, alguns filmes, programas de tevê, comerciais e peças teatrais. Encontra-se há 12 anos casado com a mesma mulher, o que alguns consideram um milagre. Em 2007, faz 60 anos de idade. Resolveu comemorar em estilo, lançando seu caderno de memória, Le Vagabond International. É a trajetória deste cineasta rebelde, que não teve tempo de ir à Faculdade. Ele parecia já ter nascido profissional. Nasceu em Quissamã, pequeno lugarejo quase desconhecido do Estado do Rio de Janeiro em 1947, mas foi se formar em Hollywood, na Califórnia, durante os anos 80 do século passado. Na sua crônica de vida (que reluta em chamar de autobiografia) entra fundo na descrição das dificuldades encontradas durante sua jornada de herói. Mostra, também, com humor franco e aberto, o cotidiano de sua vida amorosa, cheia de altos e baixos, como suas profissões". (Tobias Cardoso)

PRIMEIRA PARTE
“Os fracos perdem porque são fracos e não porque são bons ou maus”

Explicação mais que (des)necessária
Atenção, amigo ou você, leitor, que se dispôs a gastar alguns reais ou dólares para comprar e ler esse livro desajeitado. Estou tentando escrever essa historinha desde que mudei de Los Angeles para Fort Lauderdale, em Agosto de 1990, após ter dirigido sozinho as 2711 milhas que separam a Califórnia do sul da Flórida. Só pensava em uma coisa: escrever minha história de fracasso. Como “todos escrevem sempre uma história de sucesso e são campeões em tudo”(Fernando Pessoa), pelo menos essa aqui teria que ser diferente. Guardadas as devidas proporções. Não tive sucesso com dinheiro. Mas como não tive no amor, também, fico pensando: Onde anda o meu sucesso? O que fiz do meu talento? Quem são meus filhos? Como estarão as árvores que plantei? Que fiz do meu trabalho? Afinal, escrever uma autobiografia é a coisa mais fácil do mundo; difícil é encontrar quem a leia. Pior que um porre mal curado! Read it at your own risk! Meus defeitos são tantos, tão poderosos, tão complexos, que juntando todos eles lado a lado, minha vida não viraria um álbum de figurinhas das estampas Eucalol*.

Em Agosto de 1990, dirigí um caminhão da Hertz-Pensk, através de desertos, estradas intermináveis e longos estados como Nevada e Texas, acompanhado de um sonho de vida nova na Flórida. O que me fez pensar muito. E talvez tenha me deixado ainda mais confuso. Minha vida com Hilza tinha sido muito louca desde 1980, entre Brasil e Estados Unidos. Eu descobrí que não deveria continuar investindo na relação, mas havia um pequeno detalhe: nosso filho Nicholas já estava com 8 anos e queríamos que ele tivesse a oportunidade de exercer a dupla cidadania. Creio que o que pesou em nossa decisão de deixar Los Angeles e a década de 80 para trás, era para tentar levar uma vida mais saudável numa praia floridiana, longe da droga fácil e matadora que nos havia rondado aquele tempo todo. E havia o Nick, que precisava nossa atenção e a possibilidade de fazer o high school nos Estados Unidos. Fumamos o cachimbo da paz por um tempo e planejamos a longa jornada, que incluía São Paulo, Los Angeles e Fort Lauderdale.
Comecei a viagem no storage de Sherman Oaks. Ao retirar nossa mudança, com a ajuda de meu amigo, o roteirista David Adnopoz, percebí que estava dando adeus a Hollywood. Sem um projeto concreto, só com o sonho de escrever roteiros de cinema, ficar rico, ir morar nas Bahamas, de preferência em Bimini, melhor ainda se fosse na Pousada Hemingway.
Portanto, como ainda não estou lá e depois de todo esse tempo não ter sido reconhecido nem como cineasta nem como escritor, resolvi preparar essa salada caseira, que envolve viagens, teatro, cinema e TV, mas principalmente descreve o amor por todas as mulheres que não tive, esse impossível e arcaico sentimento, que na minha modesta opinião pode durar 3 segundos, 3 minutos, 3 horas, 3 dias, 3 semanas, 3 meses, mas jamais passa de 3 anos. O resto é simpatia e respeito, quando o ódio não é sua herança. Exceções à parte, claro.

Porque misturo profissões, trabalhos, amores que não tive...? Para parecer herói. Uma característica pessoal de quem tem problemas psicológicos internos e externos ou quando não se fixa numa raíz. Talvez a necessidade de mostrar ao mundo que poderia sempre enfrentar o desconhecido. Deve ter sido passado pelas almas inquietas de meus antepassados, que viviam nômades pelos desertos árabes. Ou poderia ter sido um argumento de algum filme dos anos 40, com sabor de Sinbad e Morgana.

Sem realizar nem parte do sonho de 1990, passaram-se mais 14 anos. Sem que eu nem tocasse na idéia desse...livro! Somente em 2004, num workshop em Cambridge, Massachusetts, notei finalmente a importância de retomar a idéia. Resolvi, sem nenhum ego-trip (claro!), voltar a escrever, estimulado por pessoas maravilhosas que encontrei pela estrada longa da vida. Algumas, acho que mais ou menos 30, sobreviveram, ainda estão por aí e com certeza lerão essas linhas loucas. Principalmente Elaine Loretto Barbosa, Dácio Lobo Junior, Rômulo Campos, Ricardo Meirelles, Eisaburo Mori, Dilma Lóes, Angela Agostinho, Fernando Marcelo, Paulo Coelho, Luiz Cesar Mendonça, Chico Moura, Hilza da Silva, Fred & Mary Pereira, José Peixoto do Vale, Eliane Martins, Izaac de Souza, Armando Barreto, Vania Williamson, Ricardo Barbosa, Armando Rozario, Lucia Souto Maior, Armando Borges, Nehy de Aguiar Peixoto, Isis Maria, Fatima Baptista, Aloisio Barbosa, Jorge Aziz, Alcione Correa, Luiz Garcez e José Milbs.
Aos que me conhecem e aos que não me conhecem, sugiro que leiam direto, batido, só assim deixarão de notar como escrevo mal. Pode ser que alguns amigos e críticos verdadeiros, digam: “Será que ele não entende que o tempo passou e que literatura de categoria B não tem mais espaço num mundo tão cheio de livros de qualidade e escritores sensacionais..aliás, prá que serve ISSO que o Phydias Barbosa escreveu?”
Justifico: Talvez vocês se vejam aqui ou alí em capítulos desse calhamaço, talvez encontrem alguma referência do período em que vivemos próximos, quem sabe viraram verbetes inteiros? Aqui, gostaria de reverenciar o meste Mario Prata, o Pratinha, que me deu a idéia, depois que lí seu Minhas mulheres e meus homens, seu quase-livro de memórias, um tipo de autobiografia precoce. Tem pai, mãe, filho e filha, mulheres amantes, escritores, cantores, atrizes, jornalistas, gente muito ilustre - e anônimos queridíssimos. Foi inspirante! Portanto, pode ser que o seu tempo investido na leitura dessas linhas soltas seja bem empregado. Mesmo para que tenham o que reclamar comigo. Como nasci polêmico, há o perigo de ter sido assim a vida inteira. Portanto, nada mais me assusta, meus únicos medos verdadeiros na vida vêm de picada de cobra venenosa e relâmpagos do sul da Flórida, durante as chuvas tropicais de verão. De furacão, perdí o medo! Depois do que aconteceu em New Orleans com o Katrina, em 2005, o resto é vento sul. Entretanto, jamais esquecerei a lição que o Furacão Katrina ensinou ao povo americano.

Então, essa aventurazinha aqui, que pode parecer um relatório interminável, só é boa leitura para quem tiver um pouco de senso de humor e desculpar a minha forma tão antiga de escrever. Mas a culpa é de Dom Pedro II, não minha.

Outra razão mais do que importante para que vocês comprem o livro é porque preciso pagar umas contas atrasadas desde 1975, quero comprar uma casa de 3 quartos na Flórida, um Jeep Liberty Sport 2007, uma casa em Quissamã e um sítio na serra do Frade. Então, ajudem o Barbosinha a melhorar de vida! Se notarem aqui e ali que existiram amores demais na minha vida em determinado momento, em que cada aventura era vivida como se o amanhã não existisse, acreditem! It´s all true! Se minha forma modesta de escrever lhes fizer parecer que sou presunçoso, podem crer: sou mesmo! (Mas, pensando bem, será que tudo é mesmo verdade, ou serei um bom invencionista?).

Para resguardar a imagem de algumas das mais brilhantes relações amorosas e amigas que tive na vida, gostaria de informar que fui obrigado a trocar alguns nomes, em alguns casos tive que usar somente as iniciais. Enviei cartas e emails a algumas pessoas diretamente mencionadas aqui, pedindo sua autorização e correção. Com outras, estou correndo os riscos. Notem bem: aceito reclamações posteriores. Gabriel Garcia Márquez bem que avisou em seu livro de memórias, Viver para Contar, que "a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la".

Porque escrever?
Um dia, notei que gostava do ofício, primeiro estimulado pelos colegas de sala no Colégio Luiz Reid em Macaé, mais tarde por uma colega de trabalho no Rio de Janeiro, a redatora e escritora Nehy de Aguiar Peixoto, que por esses encontros que o destino nos apronta, era macaense. Quissamã ainda era distrito de Macaé quando a conhecí na International Advertising Service. Virei seu discípulo. Que sorte a minha! Ela me estimulou a escrever os primeiros contos e poemas juvenís, alguns dos quais vossas senhorias terão o prazer de ler em primeira mão, embora escritos na década de 60.

Eu era metido a escrever, e só! Escreví ao acaso centenas de textos, entre ensaios, poemas, letras de músicas, peças de teatro, contos, roteiros de filmes, muitos inacabados, uma salada geral. Que pouco serviram. Escreví relatos de filmagens das quais participei, como também parte de um diário, que teve alguma atenção nos anos 1970, pouca nos 80 e nenhuma nos 90. Esse diário foi a essência da minha memória durante tratamento com um terapeuta carioca, brilhante, o Guará: Luiz Fernando Guaracy Rodrigues. Cabeça boa, centrado em tudo. Com ele, ví de perto a beleza do pensamento de Carl Jung e pude sentir na pele a dor que dá quando se percebe que Freud estava completamente certo. A dor vem da relação de tempo sexual perdido na vida, gasto com conversa fora e falta de percepção. Com Jung, passei a entender a relação anima-animus, a negociar com minhas sombras e a perseguir meus sonhos, numa busca meio picaresca, às vezes folclórica, sem acreditar que tudo seria possível, gozando a minha realidade em busca de amor, dinheiro, aventura e fama.

Sempre fui mais inteligente do que a média, o que não era nenhuma vantagem porque a média, para mim, era café-com-leite. Mas a lei da compensação fez com que eu não estivesse na lista dos dez mais bonitos, nem da cidade, nem da escola, nem da classe, nem de nenhum grupo, inclusive os que só tinham 9 meninos. Minhas fotos de criança são horrorosas. Podem crer, essa aqui por exemplo, deveria ganhar o 10th Brazilian Press Award da Flórida, pelo tamanho das orelhas. (CONTINUA...)

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